quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Lavagem do Bonfim



História

Tradição mantida há mais de dois séculos, a Lavagem do Bonfim é marcada pela forte presença do sincretismo religioso entre o catolicismo e o candomblé. Devotos do Senhor Bom Jesus do Bonfim e Oxalá se reúnem para festejar, prestar homenagens e pagar promessas no cortejo em direção à Colina Sagrada. O culto ao Nosso Senhor do Bonfim começou em 1745 quando a imagem do santo foi trazido pelo capitão Português Teodósio Rodrigues de Farias cumprindo uma promessa que fez depois de ter sobrevivido a uma forte tempestade.

A tradição da lavagem das escadarias da igreja veio também deste período, quando os escravos eram obrigados a lavar as escadarias do templo antes da festa. Os negros começaram então a reverenciar Oxalá, o pai de todos os orixás. Além do contexto religioso, a Lavagem do Bonfim também é caracterizada pela grande festa que acompanha e circunda o trajeto de fé.


Segundo relatos históricos, a lavagem começou a partir dos moradores da região que tinham o objetivo de lavar a igreja para deixá-la pronta para a Festa do Bonfim, realizada pelo catolicismo no segundo domingo após o Dia de Reis.

A “faxina” do templo religioso acontecia três dias antes da festa, numa quinta-feira. A chegada até à colina sagrada era marcada por muita dança durante o cortejo, o que provocou a proibição da lavagem da igreja, em 1889, pelo arcebispo da Bahia Dom Luís Antônio dos Santos.




Sincretismo

Contrária ao sincretismo, Valdina Pinto, que é Makota (alto cargo feminino dentro da religião do candomblé) do terreiro Tanuri Junsara, em Salvador, afirma que a Lavagem do Bonfim não é ligada ao candomblé e sim à cultura popular. “Hoje já tem muito folclore. É o candomblé? Não, não é o candomblé. Aquela água (a água de cheiro que lava a escadaria) não tem nada a ver com a água de Oxalá. A água de Oxalá é uma outra coisa. O fundamento é outro. Ali é uma prática popular”, defende Makota Valdina.

Segundo ela, a fé das pessoas que fazem o percurso é que faz da lavagem uma festa especial. “As pessoas vão lá pela fé no Senhor do Bonfim? Vão. Fazem promessas? Fazem. Alcançam? Alcançam. Porque o espiritual transcende o material e a fé está ligada à espiritualidade, que é invisível”, conclui.

Para a historiadora Wlamyra Albuquerque, as críticas que os líderes religiosos fazem ao sincretismo devem ser compreendidas no contexto de cada segmento religioso. “Quando uma Ialorixá diz que Senhor do Bonfim não é Oxalá ela está demarcando não só no campo religioso, mas também político, a autonomia do candomblé em relação a Igreja Católica hoje”, avalia a pesquisadora. Segundo ela, “a lavagem do Bonfim ventila a cultura popular baiana, porque continua a ser um espaço para reinventá-la. Não é uma festa do passado a se repetir, mas um festejo antigo que recriamos a cada ano”. Apesar dos significados distintos para as religiões, baianos e turistas preservam a cultura "sincrética" traçada desde o princípio das celebrações religiosas na Bahia e fazem da lavagem do Bonfim a festa de largo mais importante de Salvador.

Fonte: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2013/01/culto-ecumenico-da-inicio-tradicional-lavagem-do-bonfim.html


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