quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Texto do Jornalista e Radialista Gabriel Gontijo

Publicado no dia 8 de dezembro de 2016

O RÁDIO E O JORNALISMO RESPIRANDO POR APARELHOS

" (O texto é grande, mas peço que leiam com atenção)
Confesso que nem sei por onde começar.... Descobri o rádio com 9 para 10 anos de idade. Morava em uma cidadezinha do interior de São Paulo (Adolfo) e meu pai tinha um aparelho de rádio de marca "Motorádio", que hoje não mais se encontra no mercado. De noite, meu pai sintonizava diversas emissoras em ondas médias, curtas e tropicais. Dentre elas, a que melhor pegava eram a Globo 1220 AM e Tupi 1280 AM. As duas transmitiam as emoções do hoje extinto Torneio Rio-São Paulo. 

Ali descobri algo superior a uma paixão, era amor a primeira vista: o Rádio. Desde então, sempre sonhei com isso até o dia que falei pela primeira vez o microfone como profissional, exatamente às 16 horas de um sábado, dia 02 de março de 2013 na Rádio Bicuda 98,7 FM. Um pouco antes, no dia 28 de setembro de 2012, resolvi investir no meu sonho de forma mais concreta após começar no curso profissionalizante de locução na Escola de Rádio. Em fevereiro de 2014 resolvi que teria que investir pesado.

Então troquei a faculdade de História (estava no meio do curso) pela de Jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Fui com tanta vontade que na prova de transferência interna passei em primeiro lugar!! MAS........................
Na vida, sempre há um "mas" e às vezes ele costuma ser ruim, até cruel. E vejo que a situação atual se encaixa nesse cenário.

Saí da Tupi exatamente no dia 1º de dezembro de 2014 de uma forma um pouco dolorosa. Passei os 5 meses seguintes de forma extremamente difícil, seguramente os piores da minha vida, pois insisti de todas as formas em buscar algo no meio da comunicação e o que ouvi em TODAS as oportunidade foram "NÃO". Foram mais de 150 currículos para todos os tipos de mídia: rádio, TV, impresso, estágio em mídias digitais, internet, blog e tudo o que mais se possa imaginar. Achava que tudo era uma fase que seria passageira, mas pelo visto estava enganado, pois os passaralhos se multiplicaram desde então.

Passaralho....

Como essa palavrada tem sido usada. Pior do que usada, praticada.
O termo é até chulo - tanto que não gosto de usá-lo e evito sempre que possível - mas com tamanhas demissões e fechamento de emissoras, entendo o motivo dessa palavra estar tão em "voga".
E, irônica e cruelmente, essa palavra resolve agir com força justamente nas duas emissoras que me fizeram amar o rádio: Globo e Tupi. 

Ver tantos colegas, amigos e pessoas que me incentivaram (e ainda me incentivam) a não desistir do meu sonho de repente perderem seus empregos, serem demitidos sem poderem se despedir dos ouvintes, com salários atrasados (além de INSS e FGTS recolhidos, mas não repassados) e, muitos, tendo como única saída a via judicial, mesmo assim em vão em alguns casos, é extremamente doloroso. Uma dor inenarrável.
Como é triste ver o rádio assim. O jornalismo também.

Emissoras fechando, jornais quebrando, trabalhadores passando necessidades...
Não é demagogia o que escrevo. É um desabafo sincero, profundo e muito, mas muito triste.
Ver que inúmeras emissoras de São Paulo, Rio e Minas estão à beira de um colapso é um cenário desesperador. Rádio Globo, Rádio Tupi, Folha de São Paulo, Rádio Jovem Pan, TV Alterosa, O Estado de Minas, Revista Isto É, Veja e tantas outras que não consigo nem numerar.

No passado tive um sonho que no presente se transformou em realidade, mas ao que parece se encaminha para um futuro completamente sombrio e tenebroso, um pesadelo inesperado.
Curiosamente, além do profundo sentimento de tristeza que sinto ao escrever essas palavras e do choro que trago em meus olhos (sim, choro porque é muito doloroso ver tanta gente querida sem trabalho), escrevo este texto ouvindo a clássica abertura do programa Haroldo de Andrade, o Concerto nº 1 de Tchaikvosky.

Talvez eu sinta em minha simples imaginação - creio que de maneira inconsciente - um conforto com as palavras do velho Haroldão e nutrindo uma esperança que o cenário se reverta. Para quem tiver paciência de ler esse texto, peço humildemente que o faça ouvindo a célebre trilha do mestre, pois mesmo com o coração consternado, a sensação que tenho é que o próprio assopra palavras de esperança e força, sempre finalizando com o seu inesquecível BOM DIA!"

                                                                                                                                     Gabriel Gontijo

Blog “Cadê as Meninas?” ganha prêmio de Reconhecimento

Matéria publicada no site E Pop na Web, no dia 8 de dezembro de 2016

O blog ‘Cadê as Meninas?’ acaba de ganhar seu primeiro prêmio de reconhecimento e incentivo ao conteúdo de qualidade. A premiação aconteceu na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo durante o Fórum Internacional de Negócios Brasil-China no último dia 5. O prêmio foi oferecido pelo Presidente da Câmara de Comércio e Desenvolvimento internacional Brasil-China, Sr Fabio Hu e entregue pelo Diplomata Empresarial Leonel Aguiar.

 
Divulgação
 O Cadê as Meninas? está no ar a pouco mais de dois meses e é voltado para o melhor da cultura no Brasil, para a gastronomia de qualidade, para o turismo, a arte e o design. No turismo, o blog tem como objetivo focar no Brasil, em Portugal e na Itália dando dicas das cidades menos badaladas mas com forte atrações turísticas.

O Cadê as Meninas? é assinado pela jornalista Cláudia Rolim e conta com a colaboração da atriz Denise Macedo e da designer Sara Rolim.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Texto do Jornalista Bruno Quintella

Publicado no dia 3 de dezembro de 2016

"Um realismo nada fantástico, mas sóbrio e duro chamado realidade. Nem Gabriel García-Márquez poderia prever numa eventual continuação de seu romance com o título que resumiria essa tragédia. Só que em vez de Santiago Nasar, foram oitenta pessoas. Foi o dia em que a realidade esfregaria na cara do realismo fantástico que a vida prega peças.
Macondo também está triste.
É inevitável que toda essa tragédia remeta aos contos e às sagas de algumas histórias elocubradas pelo escritor colombiano, morto em 2014.
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Um time de futebol de uma cidade de interior, do sul do país, onde habitam cerca de duzentas mil pessoas. Jogadores com salários modestos, um clube com pouco mais de quarenta anos de existência (num país onde muitos clubes já comemoraram seus centenários) e uma trajetória magistral. Uma conquista inédita tão próxima de Chapecó e dos chapecoenses. Uma guinada a caminho de uma projeção internacional que, para muitos, até ali, não era tão evidente. Mas era, sim, para mais de vinte jornalistas que também acreditavam nesse sonho. Jornalismo é você contar a história do outro, por mais triste que seja, por mais despretensiosa que pareça, por mais simples que possa ser. Porque nosso dever não é apenas informar, mas saber informar. Era assim também o nosso colega colombiano Gabo - que o Geneton Moraes Neto achava um desrespeito fabricar essa intimidade com GGM: chamá-lo pelo apelido.
Geneton e Gabo certamente estão tristes também. Quando o jornalista se transforma em notícia, raramente é por um bom motivo.
Raramente.
Nossos Guilhermes, Ari, Victorino, P.J Clement e outros dezesseis companheiros certamente eram do time dos que sabiam como poucos levar a informação para o público. E morreram para contar e denunciar como voos sem segurança eram feitos a torto e a direito, como companhias aéreas coloca(va)m em risco passageiros e tripulação há algum tempo. Como equipes jornalísticas têm em sua rotina o acompanhamento de times e delegações para extrair, de mais perto possível, o clima e as informações mais quentes. É claro que nenhuma reportagem vale uma vida, é sempre bom frisar. E a única certeza que temos é que nenhuma morte foi em vão.
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O cortejo ontem nas ruas de Medellin. A imagem de cinquenta caixões passando pelas ruas escoltadas pelos militares colombianos. As pessoas nas ruas emocionadas com tudo aquilo que aconteceu, que uns chamam de desastre, outros tragédia, mas não mais acidente, mas um risco assumido. Não foi acidente.
O estádio lotado com mais de cem mil pessoas comovidas, tristes, fortes e solidárias. Esporte é compartilhar sentimentos de vitórias e derrotas, mas também é dividir sentimentos sem nome. É impossível denominar o que aconteceu naquela noite, essa sim, realisticamente fantástica – mesmo que triste, dolorosa e surpreendente. O estádio de nome Arena Condá viveu seus momentos da mágica e triste Macondo, talvez pela semelhança vocabular e metafórica: Condá e Macondo.
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Minha mãe sempre diz que não existe coincidência, e sim, convergência. Não há como ter certeza de que essa ‘era a hora’ deles. Mas a lição que fica é que devemos sempre valorizar a vida. Num abraço, num beijo, numa palavra de apoio ou carinho, de solidariedade. Temos muito o que aprender com o povo colombiano, nossos irmãos latinos, que, por muitas vezes, subestimamos por diversos motivos, como pelo fato de, simplesmente, serem nossos vizinhos. Precisamos entender que solidariedade ultrapassa fronteiras. Precisamos de tantas coisas.
Precisamos daquele abraço da mãe do goleiro Danilo, a dona Ilaídes, no nosso companheiro Guido Nunes;
Precisamos daquele carinho no rosto;
Precisamos da força da dona Ilaídes - e ela precisa de nós.
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O estádio da Chapecoense, agora debaixo de chuva, onde as lágrimas das pessoas se confundem com os pingos d´água vindos do céu. Capas de chuva que não nos protegem da dor – nem das lágrimas. Mas que permitem que os uniformes verdes estejam à vista.
Como disse García-Márquez em “O Amor nos Tempos do Cólera”:
‘A memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas, e graças a esse artifício é que suportamos o passado.’
Vamos em frente."

Bruno Quintella


sábado, 3 de dezembro de 2016

Depoimento do Jornalista e Fotográfo Marco Leal

"Esse velório na arena em Chapecó, se não é a coisa mais triste que já vi em minha vida, passa perto. A chuva torrencial que cai é repleta de significados. A presença de Temer no evento é a coroação de um desses significados: o Brasil é grande e tinha o sonho de chegar longe. Estava perto, como o time catarinense. Mas a ganância dos "pilotos"do país nos levou à queda livre, ao pesadelo e ao caos em que nos encontramos agora. O Brasil sofre há anos de uma pane seca. Os responsáveis por ela se diluem na História.
Chapecó, nesse exato momento, representa o que eu sinto por ser brasileiro....
Eu não poderia deixar de fazer essa analogia. Minha vida é sempre repleta de simbologias e vejo significados em muitos fatos.
Vamos levar muito tempo para conseguir amenizar dentro de nós essa dor da tragédia com o Chape.
Que dia triste... Que Deus receba a Alma dessas pessoas e que descansem em Paz."
                                                                                                                                   Marco Leal

Charge by Periódico O Bairrista

Charge publicada no dia 3 de dezembro de 2016 no twitter do Periódico @O_Bairrista do Rio Grande do Sul



quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Workshop de Constelação Familiar em Campo Grande (MS)

No Workshop de domingo, será tratado de questões que impedem o caminho para o sucesso, através de meditações iremos encontrar o passado, olhando para tudo que aconteceu, honrando e incluindo a história de nossos antepassados. Todos do grupo interagindo ao mesmo tempo. Entrando em contato com o amor que cura e liberta.


quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Mensagem da Jornalista Fernanda Gentil

Publicado no dia 29 de Novembro de 2016

"Mais uma vez a vida fez planos pra gente, e não a gente pra ela... quis ela, sabe-se lá por qual motivo, que esses jogadores, tripulantes e jornalistas tivessem hoje seus sonhos interrompidos, quando o plano deles era apenas seguir.

Seguir para um jogo, uma matéria, um destino. Seguir e, sem dúvidas, voltar. Voltar para suas casas, seus trabalhos, suas famílias... mas não vão. A maioria não vai... o Gui Van der Laars, o Ari Junior e o Guilherme Marques, por exemplo, não vão estar mais na redação.

Não vão nos brindar mais com os sorrisos deles, com as brincadeiras, com o talento, com a leveza com a qual levavam a vida. E a vida deles não era menos especial que a minha ou a sua, muito pelo contrário! Laars é pai de dois, e o terceiro vai nascer em menos de um mês. Guilherme Marques uma revelação, novo, cheio de vida e sorrisos pra distribuir.

Os dois fizeram aniversário na semana passada, assim como eu. Por sorte, fazemos em datas diferentes, assim consegui abraçá-los em mais de um dia. E em todos eles trocamos os melhores votos possíveis. Ari era um lord! Espirituoso, talentoso, um homem-sorriso. E hoje, todos esses (e muitos outros) caras fenomenais se foram... e então porque não pode acontecer com a gente?

Claro que pode. A vida, antes de ir, ela não manda aviso não! Não comunica, não liga, não tem whatsapp. Aliás, a última mensagem do Gui pra mim no whatsapp semana passada foi "conta comigo, vou estar sempre aqui." Que dor, Gui... você disse que estaria mas não está. E olha, lutei muito pra não acreditar que vocês realmente não estariam mais.Fiz conta, refiz, chequei, li a lista, procurei, fingi que não vi. Procurei de novo, fechei um olho, re-re-refiz as contas, e vi a lista de novo... vocês continuavam lá.

Depois da confirmação da tragédia, vem a dor. E da dor nos resta tirar uma lição muito importante: falar enquanto há tempo - falar em vida. Abraçar em vida. Amar em vida. Perdoar em vida. Porque tudo isso é viver a vida. Falar todas as coisas bonitas que falamos pra vocês hoje, para muitas outras pessoas que ainda estão aqui e podem ler/ouvir. Aliás vocês mal se despediram da gente e já ensinaram tantas coisas... tinham que ver o que os clubes brasileiros e do mundo todo fizeram! Todos postando o escudo da Chape! Jogadores mandando recados, fazendo minuto de silêncio!

Autoridades decretando luto! Vocês hoje ensinaram que o que importa é a vida, não um jogo, um time, uma cor, uma raça, uma competição. Ensinaram que um título pode sim ser decidido fora de campo; nas nuvens, no céu, num lugar bem melhor que esse aqui, e hoje ele foi: pode avisar aí em cima que "o Atlético, num grande ato de solidariedade, vai dar o título da Sul-Americana para a Chapecoense" (Gui, essa pode ser a frase de abertura do seu vt, eu te empresto a ideia  :)).

O Ari eu sei que vai fazer as imagens mais lindas da vida dele, e o Laars vai caprichar nas exclusivas pro Esporte Espetacular desse domingo - que aliás vai ser o programa mais difícil da minha vida.
Não aprendi em curso ou faculdade nenhuns a imparcialidade ou frieza jornalísticas necessárias para apresentar num contexto desses - e espero nunca aprender. Prefiro o calor e o sentimento humanos. Prefiro acreditar que o buraco que se abriu no peito de todos hoje trouxe à tona muitas reflexões pessoais, e eu sei que trouxe.

Vê se não é assim: a gente pensa em amar mais, julgar menos, nos declarar mais, reclamar menos, agradecer mais, se importar menos, agredir menos, viver mais... e em questão de dias, esse "efeito" passa. Só que a gente não pode esquecer que em questões de dias, a vida também passa. Então esse efeito tem que durar.

Então por vocês três, por tantos outros que estavam nesse avião, e, principalmente, pelos amigos e famílias que perderam alguém querido, espero que a nossa reflexão nos faça mudar de verdade; e que dessa vez esse "efeito" dure exatamente o mesmo tempo que a saudade de vocês vai durar - pra sempre."

Fernanda Gentil

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Linda mensagem do Jornalista Bruno Quintella



Publicado dia 29 de novembro de 2016

"Diferentemente de qualquer outra profissão, no jornalismo a dor maior do que sentir é cobrir a morte de um colega. É um sentimento inexplicável.
                                        
A morte repentina é sempre a mais violenta. Não importa a maneira. O choque da notícia, o impacto que reverbera aos poucos de fora para dentro, e depois de dentro para fora, num latejar de emoções indescritível. Vontade de chorar com vontade de lembrar das coisas boas. A gente busca um recorte de tempo guardado na cabeça e passa a folhear a memória à procura de uma lembrança. Ou torcer para que tudo seja apenas um terrível susto.

Mas nunca é.

Além de toda delegação do time da Chapecoense e os tripulantes do avião que caiu na madrugada, morreram também mais de vinte jornalistas brasileiros. Sete são do Rio de Janeiro: quatro da Fox Sports e três da TV Globo.

Meus colegas da tevê, Ari Junior, Guilherme Marques e Guilherme Van der Lars não eram meus amigos. Mas você não precisa ser íntimo para se comover com a tragédia.

Infelizmente, a DOR aproxima.

Porque a dor alheia sempre será nossa, mesmo que seja só nossa. Isso é jornalismo - que perde muitos dos seus nessa vida louca que a gente escolheu para viver ou morrer.

É a mesma profissão que nos ensina a questionar diariamente se é possível, dessa vez, seguir em frente.

Mas sempre é.

(O que é preciso é não compreender. É como diz o Renato Russo naquela música: “e toda dor/ vem do desejo/ de não sentirmos dor”)

Força SEMPRE"
 Bruno Quintella

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Oficina de Tambores Xamânicos em Santa Maria (RS)

Oficina de Tambores Xamânicos, e vivências de Animal de Poder, Purificação Energética e Limpeza de Ambientes, serão quatro encontros. Para maiores informações sobre as datas e valores nos escreva mohana_nalini@hotmail.com ou whatsapp (55) 99915-9894 ou (55)98111-9894


terça-feira, 15 de novembro de 2016

O que pode mudar para o Brasil e o Mundo



Matéria publicada dia 11 de novembro de 2016, no site do Observatório da Imprensa 

 O que pode mudar para o Brasil e o Mundo

Por Ana Beatriz Anjos
Texto produzido e distribuído pela agência Pública, 10/10/2016

O dia 9 de novembro de 2016 entrou para a história como a data em que o ex-apresentador de TV e bilionário Donald Trump superou a concorrente Hillary Clinton e chegou à presidência dos Estados Unidos. O republicano contrariou as previsões de especialistas e da própria imprensa norte-americana ao levar os votos de 279 delegados do Colégio Eleitoral contra 228 de sua adversária.

Logo após a consolidação do resultado das eleições, a Pública ouviu o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser para entender os significados da vitória de Trump não só nos Estados Unidos, mas no mundo. Nasser abordou a frequente comparação entre o novo presidente norte-americano e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), alçado ao posto de ícone do conservadorismo no Brasil.

Reginaldo Nasser / Foto Vermelho.org
Em 45 minutos de conversa, o professor explicou também as diferenças entre o contexto norte-americano e brasileiro no que diz respeito à ascensão de lideranças como Trump. Destacou, ainda, a projeção de Bernie Sanders, ex-pré-candidato democrata à presidência, como sinal de que há espaço para movimentos de reação a propostas de direita.

“Fazer com que os Estados Unidos voltem a ser grandiosos” (“Make America great again”): esse foi o slogan adotado pela campanha de Donald Trump. Qual o seu significado no plano internacional? 

Não avalio que haja diferenças entre Trump e Hillary. Cada vez mais, e já há muito tempo, os Estados Unidos mantêm, principalmente em política externa, aquilo que chamamos de “política de Estado”, ou seja, as mudanças de governo não alteram substancialmente a política externa. Precisamos saber onde se formulam as decisões e os grupos de influência – o Congresso é um. O Congresso é formado pelos partidos mas também pelos lobbies. Eles, por vezes, congregam deputados ou senadores dos dois partidos. Ou seja, acaba-se chegando a certos consensos. Vamos pegar a questão dos imigrantes: hoje mesmo fui pesquisar e, durante os oito anos de governo Obama, foram deportadas 2,5 milhões de pessoas, um dos maiores números da história dos Estados Unidos, se não o maior. Isso fora a quantidade de gente que não foi autorizada a entrar ou que foi convidada a “sair voluntariamente”.É uma marca muito forte [do governo Obama], apesar de ter um discurso mais brando, dos democratas. O estilo diferencia muito; o estilo democrata supõe, em geral, uma formação em universidades mais qualificadas, são pessoas que têm um discurso, vamos dizer, mais civilizado. Não é só agora, você vê como era o [John F.] Kennedy [democrata], muito diferente do [Richard] Nixon [republicano] que veio depois, do Lyndon Johnson, democrata, você tem o Jimmy Carter [democrata], aí vem o Bush [republicano]. Você tem o estilo, formação, tudo muito diferente. E isso, entendo, nos desvia a atenção das questões concretas. Quem entrou na guerra do Vietnã pouca gente lembra ou sabe: foi o Kennedy.  O Nixon foi último a apagar as luzes, matou muita gente e acabou aparecendo mais. Durante o governo de Bill Clinton, os Estados Unidos fizeram muitos ataques militares, mas aí quando veio o Bush, todo mundo ficou centrado em sua figura. Guerra do Iraque: houve um voto contrário de uma única deputada, todos os deputados democratas votaram a favor, mas na narrativa parecia que o único culpado era o Bush. Há uma narrativa da mídia mais qualificada – The New York Times, principalmente – sempre pró-democrata, e da mídia europeia também. Isso acaba nos desviando o olhar. Se você pegar, por exemplo, política para o Oriente Médio, Hillary ou Trump não muda nada. O Obama manteve a política de vender armas e apoiar a Arábia Saudita, vender armas e apoiar Israel, fazer pouca movimentação de retirada no Iraque e Afeganistão. O apoio indireto ao Estado Islâmico, que hoje está muito claro, veio de quem? Do governo Obama. Quando o Obama entrou, ocorreu um fato inédito: ele manteve o secretário de Defesa do Bush [Robert Gates]. Foi uma coisa muito estranha, nunca tinha acontecido. Isso denota que há uma política do Pentágono, independente do presidente. Há grupos – militares, políticos, empresariais – com muita influência, que dão o tom para uma certa política do Pentágono; outros grupos dão o tom para a política de imigração.Onde há uma diferença bastante significativa para questões internas é na área da seguridade social: os republicanos agem muito mais no sentido da privatização e de dar poder às seguradoras. Fora isso, é difícil achar uma diferença significativa. E quando se diz “vai ter mais protecionismo”, temos que avaliar: pode ser em alguns produtos e não em outros. É muito pontual, funciona muito em torno de grupos de apoio. Energia: energia limpa equivale aos democratas; petróleo, aos republicanos. Ok, só que isso não deixa de ter suas políticas protecionistas e restritivas. O que acho que volta e meia caímos no equívoco, principalmente na América Latina, é falar “os democratas apoiam e incentivam mais o multilateralismo”. Eu diria: é e não é. Eles apoiam multilateralismo com a Europa. Então, por exemplo, o Trump, como Bush filho e pai, Nixon, todos eles têm discursos muito duros em relação às alianças europeias, tanto militares como comerciais. Aí, claro, os europeus aproveitam disso para dizer que é com o mundo, e não é, é com eles.
Donald Trump em Phoenix, capital do Arizona,
na reta final da campanha, em outubro
(Foto: Flickr/Gage Skidmore)

Então, em relação à política para o Oriente Médio, postura diante do Estado Islâmico e refugiados, por exemplo, não haveria diferença entre Trump e Hillary Clinton?

Não muda nada, isso é política definida pelo Pentágono, Secretaria de Defesa. Há um corpo muito mais permanente que não fica ao sabor dessas mudanças circunstanciais. Como eu disse, em relação à Arábia Saudita: o Bush apoiou. 
A Arábia Saudita foi o único país cujos diplomatas puderam sair depois depois do 11 de setembro sem ser vigiados. Todo mundo disse “o Bush se curvou a eles”. Recentemente, foi aprovada uma lei no Congresso que permite que familiares de vítimas do 11 de setembro processem outros países [por vínculos com os ataques], e Obama vetou para proteger a Arábia Saudita. Israel: de todos os presidentes, Obama foi o que mais mandou dinheiro para Israel em armas etc. Outra coisa interna: militarização da polícia americana, há um auge com Obama. Com isso, não estou querendo dizer que Obama é um traidor, mas é que ele não tem controle. É uma máquina, na qual há diversas elites que se cruzam, articulam e acabam dominando o processo. Não é um presidente sentado em uma sala com uma caneta nas mãos que vai resolver isso. 

Em relação à América Latina e ao Brasil, o que podemos esperar? 

Também não muda nada. É o único ponto em que concordo com Temer na minha vida, pois ele deu uma declaração dizendo que não muda nada. Agora, tem esses arranjos, feitos frequentemente, de lobbies no Congresso. Vamos supor, na época do Bush tinha o lobby do álcool e o lobby do petróleo. O presidente pode ser influenciado por um lobby ou outro, mas não é de iniciativa própria dele. São esses grupos que vão impulsionando essas políticas pontuais.

Durante o período eleitoral, Trump criticou a globalização e se aproximou do protecionismo. Economicamente, o que representa sua vitória?

Tem inclusive uma questão histórica aí que volta e meia aparece: o momento em que os Estados Unidos tiveram projeção internacional foi o pós-Primeira Guerra Mundial, quando o presidente era Woodrow Wilson, um liberal, ou “liberal internacionalista”, como se definia. Foi Wilson que bolou toda a Liga das Nações, e quando foi para assinar a entrada dos EUA na Liga – que é, vamos dizer, a pré-ONU –, isso teve que passar pelo Senado, que rejeitou, um grupo de senadores se opôs. Os liberais denominaram esse grupo isolacionista, e ficou esse rótulo. Quando falamos em isolacionismo, a palavra não designa o que é real: após 1909, os EUA não se isolaram de jeito nenhum, não entraram nas coligações com os europeus, mas não se isolaram. Vejo, de certa forma, repetir isso com o Trump: ele não é isolacionista coisa nenhuma, como é que vai isolar a maior economia do mundo? São palavras jogadas ao vento. Há uma internacionalização que não é o estilo dos liberais americanos. O que seria esse estilo? Em primeiro lugar, multilateralismo com a Europa. Isso que o Trump está fazendo se coaduna com a atividade da Inglaterra. Antes do resultado das eleições, dei uma entrevista para o [jornalista] Luis Nassif em que disse: “olha, Nassif, está pintando a repetição da dobradinha Ronald Reagan-Margaret Thatcher. Vai ser Theresa May [primeira-ministra inglesa] e o Trump”. Está acontecendo uma divergência entre as elites financeiras e comerciais, tanto nos EUA como na Inglaterra, mas não é que é contra a elite, isso é uma análise errada. Você tem um grupo estabelecido em Wall Street que apoia a Hillary e outro grupo surgindo que apoia o Trump. Documentos vazados pelo Wikileaks mostram que Wall Street apoia Hillary, isso é fato. Agora, tem um grupo financeiro apoiando Trump, é uma cisão, como também ocorre na Inglaterra. Como se explica o “sim” ganhar no plebiscito [pela saída do Reino Unido da União Europeia] por mero acaso? Na Inglaterra também há uma imprensa de elite, liberal – The Guardian, The Economist – que pregou contra o Brexit e há a imprensa marrom, desqualificada, apoiando. E teve apoio popular. Como essa imprensa marrom funciona? Com dinheiro, alguém está financiando. Há, portanto, uma clara divisão entre as elites. Fareed Zakaria, um liberal internacionalista que trabalha na CNN e Newsweek, e o Timothy Ash, os dois escreveram há dois ou três meses dizendo que o liberal-internacionalismo precisa ser salvo, está sendo atacado pelo populismo. E o que eles chamam de populismo? Trump e os movimentos de direita na Inglaterra e Europa em geral. Há uma divergência na elite econômica capitalista global. Mas não significa isolacionismo, não tem sentido isso.

O filósofo Slavoj Žižek escreveu recentemente que a eleição de Hillary Clinton seria tão ruim quanto a de Trump, pois a democrata representa o establishment, o status quo “de uma situação em que gradual mas inevitavelmente deslizamos para catástrofes ecológicas, econômicas e humanitárias”. Qual a sua opinião em relação a isso?

Concordo plenamente com Žižek – eu só não votaria no Trump. É a mesma coisa em relação à política de Israel: o que muda para os palestinos estar no poder o Partido Trabalhista ou Netanyahu [ex-primeiro ministro de Israel, líder do partido conservador Likud]? Nada. Outra coisa que não mencionei: muito se diz que a Hillary é mais liberal na questão de gênero, aborto, direitos. Pode ser, mas isso tudo não depende muito do governo federal. No dia das eleições nos EUA, foram votadas outras medidas nos estados, entre elas, a legalização do porte de maconha, aprovada em sete estados [três estados aprovaram o uso recreativo da droga, e outros quatro, seu uso medicinal]. No dia em que um presidente conservador foi eleito, alguns estados, por meio de votações específicas, foram, vamos dizer, por uma política mais liberal, independentemente do presidente da República. Assim como há votações sobre aborto, por exemplo, e outras que podem ser até mais à direita que ele também. Estou dizendo que não muda nada, mas é claro que, muitos grupos, em termos simbólicos e políticos, vão se ver fortalecidos. O Trump fez um discurso muito mais virulento que a Hillary em relação aos imigrantes. O cara da esquina, que já é fascista, vai crescer, como aqui no Brasil muita gente começou a mostrar a cara. Esse aspecto muda, mas não é um aspecto de políticas concretas. Há um estado de espírito, vamos dizer assim, mais favorável a esse discurso [conservador], afinal é o presidente da República falando. A questão dos negros mesmo: foram mortos para burro durante o governo Obama, mas, por outro lado, ele fez um discurso contrário a isso, ia às manifestações, havia uma presença simbólica. Pode esquecer isso com o Trump. Voltando a Israel, vi a afirmação do ministro da Educação [Naftali Bennett], o cara se vê fortalecido.